Título: Os Maias
Subtítulo: Episódios da Vida Romântica
Autor: Eça de Queirós
Editor: Clube do Autor
Publicação Original: 1888
Nº de Páginas: 624
ISBN: 9789897240546
Género: Romance
No Goodreads: 4/5 estrelas
Sinopse:
O romance conta a história de três gerações da família Maia, protagonizada por Carlos da Maia, cujo nascimento é marcado pela tragédia, devido à fuga da mãe e ao suicídio do pai, no entanto, vive uma infância e juventude felizes ao lado do avô Afonso, que sempre lhe proporcionou tudo.
A ação tem início em 1875, em Lisboa, com a mudança de Carlos e Afonso para o Ramalhete. Algum tempo após a instalação em Lisboa, Carlos conhece Maria Eduarda, e os dois apaixonam-se, vivendo uma relação forte e intensa, até ao momento em que, por mero acaso, descobrem um segredo que irá mudar as suas vidas para sempre.
Opinião:
Ao longo de toda a obra, paralelamente à
intriga principal, é feita uma crítica político-social, ou seja, a Crónica de Costumes,
à sociedade lisboeta oitecentista, onde são exaltados os defeitos de
Portugal, que impedem o seu progresso. De um modo geral, as
personagens representam um vício ou uma mentalidade. É criticada a
corrupção, o atraso intelectual, a educação,
Carlos da Maia e João da Ega foram as duas
personagens que mais gostei, apesar da mentalidade machista e da vida boémia, mas ambos possuíam um espírito livre, vivo e uma voz crítica. De facto, renderam-se aos vícios da
sociedade, mas destaco a sua superioridade intelectual das restantes personagens. O João da Ega, há quem diga que é o autor colocado na obra,
era um excêntrico, sentimental, romântico, crítico de Portugal e era bastante
machista, mas era o amigo incondicional e insubstituível, para qualquer
ocasião, confidente e conselheiro de Carlos, era humilde para com ele próprio e
para com aquela amizade. Gostei muito da amizade entre estes dois!
Uma das caraterísticas que considero mais
curiosas, foi a existência de presságios, pois muitos deles
são bastante evidentes ao dar a entender o
que ia acontecer, mas tornam a história ainda mais cativante porque queremos
acompanhá-la até ao fim. Gostei porque quando comecei a ler,
tinha apenas uma vaga ideia sobre a história e não fiz nenhuma pesquisa, por
isso foi ótimo não saber como a história ia terminar e ir descobrindo o que iria acontecer, à medida que ia lendo. E acima de tudo não saber qual o segredo que ligava Carlos a Maria Eduarda!
As extensivas descrições e os muitos
pormenores tornam a história mais brilhante, permitem quase visualizar as
cenas, logo, não considero um aspeto negativo. A escrita tem características românticas, realistas, naturalistas e até autobiográficas, numa linguagem rica e rigorosa. Compreendo o porquê de não ser um livro particularmente fácil de ler, não só pelas muitas e longas descrições, o que nem sempre é apreciado, mas por ser um livro de leitura obrigatória no secundário, o que a meu ver faz com que se perca algum interesse pela sua leitura. É daqueles livros que temos de ler porque queremos e porque gostamos do estilo, do género, do autor ou porque nos despertou a atenção por algum motivo. É preciso igualmente ter uma noção de como era esse Portugal do século XIX, que não é muito diferente do Portugal de hoje.
Como aspeto negativo, destaco apenas o facto de que apesar
de todas as personagens serem ridicularizadas, Carlos e Maria Eduarda escapam
de certo modo à crítica, isto é, funcionam como modelos a seguir na sociedade.
Embora cometam tantos ou mais erros como o resto das personagens, para o
narrador isso não é considerado importante, sendo muitas vezes apenas realçadas as suas características
positivas. Pessoalmente, considero também que o final não está em sintonia
com os capítulos anteriores, porque após tantos episódios, ficou um pouco
aquém das minhas expetativas iniciais. Não sabia exatamente o que esperar mas
desiludiu-me um pouco.
Escrito no século XIX e considerado um dos
mais prestigiados livros de toda a Literatura Portuguesa, já foi editado e
reeditado em várias línguas, ao longo dos anos. Eça de Queirós é genial. Possui a facilidade de ‘brincar’com as
personagens e com as histórias que escreve e ora sério, ora sarcástico,
satirizou a sua época, sempre sob um olhar crítico e um humor refinado. A sua imaginação reflete-se na originalidade e na sinceridade que colocou neste livro.
Adorei mesmo ter lido Os Maias.
Como li para a escola, li mais depressa do que era suposto e houve algumas
coisas que me passaram um pouco ao lado. Já passaram três anos mas é um livro
que quero mesmo muito reler, talvez ainda o faça este ano. É muito completo, em todos os aspetos. Recomendo sem dúvida a sua leitura!
Deixo aqui alguns quotes do livro:
‘‘Falhámos a vida, menino! - Creio que sim...
Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade
aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «vou ser assim, porque a
beleza está em ser assim». E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado,
como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente.”
‘‘Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas
sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio
próprio, manda vir modelos do estrangeiro - modelos de ideias, de calças, de
costumes, de leis, de arte, de cozinha... Somente, como lhe falta o sentimento
da proporção, e ao mesmo tempo o domina a impaciência de parecer muito moderno
e muito civilizado - exagera o modelo, deforma-o, estraga-o até à caricatura.’’
“- O
quê!? Se tinha intenção de ofender o Dâmaso quando o ameacei de lhe arrancar as
orelhas? De modo nenhum: tinha só intenção de lhe arrancar as orelhas!”
Lisboa no século XIX
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