domingo, 14 de maio de 2017

Os Maias, Eça de Queirós


Título: Os Maias
Subtítulo: Episódios da Vida Romântica
Autor: Eça de Queirós
Editor: Clube do Autor
Publicação Original: 1888 
Nº de Páginas: 624
ISBN: 9789897240546
Género: Romance
No Goodreads: 4/5 estrelas 










Sinopse:
O romance conta a história de três gerações da família Maia, protagonizada por Carlos da Maia, cujo nascimento é marcado pela tragédia, devido à fuga da mãe e ao suicídio do pai, no entanto, vive uma infância e juventude felizes ao lado do avô Afonso, que sempre lhe proporcionou tudo.

A ação tem início em 1875, em Lisboa, com a mudança de Carlos e Afonso para o Ramalhete. Algum tempo após a instalação em Lisboa, Carlos conhece Maria Eduarda, e os dois apaixonam-se, vivendo uma relação forte e intensa, até ao momento em que, por mero acaso, descobrem um segredo que irá mudar as suas vidas para sempre. 


Opinião:
Ao longo de toda a obra, paralelamente à intriga principal, é feita uma crítica político-social, ou seja, a Crónica de Costumes, à sociedade lisboeta oitecentista, onde são exaltados os defeitos de Portugal, que impedem o seu progresso. De um modo geral, as personagens representam um vício ou uma mentalidade. É criticada a corrupção, o atraso intelectual, a educação,
o oportunismo, o declínio económico, as relações por interesse, a vida boémia, entre outros. Lisboa é o palco desta crítica. 

Carlos da Maia e João da Ega foram as duas personagens que mais gostei, apesar da mentalidade machista e da vida boémia, mas ambos possuíam um espírito livre, vivo e uma voz crítica. De facto, renderam-se aos vícios da sociedade, mas destaco a sua superioridade intelectual das restantes personagens. O João da Ega, há quem diga que é o autor colocado na obra, era um excêntrico, sentimental, romântico, crítico de Portugal e era bastante machista, mas era o amigo incondicional e insubstituível, para qualquer ocasião, confidente e conselheiro de Carlos, era humilde para com ele próprio e para com aquela amizade. Gostei muito da amizade entre estes dois! 

Uma das caraterísticas que considero mais curiosas, foi a existência de presságios, pois muitos deles 
são bastante evidentes ao dar a entender o que ia acontecer, mas tornam a história ainda mais cativante porque queremos acompanhá-la até ao fim. Gostei porque quando comecei a ler, tinha apenas uma vaga ideia sobre a história e não fiz nenhuma pesquisa, por isso foi ótimo não saber como a história ia terminar e ir descobrindo o que iria acontecer, à medida que ia lendo. E acima de tudo não saber qual o segredo que ligava Carlos a Maria Eduarda!

As extensivas descrições e os muitos pormenores tornam a história mais brilhante, permitem quase visualizar as cenas, logo, não considero um aspeto negativo. A escrita tem características românticas, realistas, naturalistas e até autobiográficas, numa linguagem rica e rigorosa. Compreendo o porquê de não ser um livro particularmente fácil de ler, não só pelas muitas e longas descrições, o que nem sempre é apreciado, mas por ser um livro de leitura obrigatória no secundário, o que a meu ver faz com que se perca algum interesse pela sua leitura. É daqueles livros que temos de ler porque queremos e porque gostamos do estilo, do género, do autor ou porque nos despertou a atenção por algum motivo. É preciso igualmente ter uma noção de como era esse Portugal do século XIX, que não é muito diferente do Portugal de hoje.

Como aspeto negativo, destaco apenas o facto de que apesar de todas as personagens serem ridicularizadas, Carlos e Maria Eduarda escapam de certo modo à crítica, isto é, funcionam como modelos a seguir na sociedade. Embora cometam tantos ou mais erros como o resto das personagens, para o narrador isso não é considerado importante, sendo muitas vezes apenas realçadas as suas características positivas. Pessoalmente, considero também que o final não está em sintonia com os capítulos anteriores, porque após tantos episódios, ficou um pouco aquém das minhas expetativas iniciais. Não sabia exatamente o que esperar mas desiludiu-me um pouco. 

Escrito no século XIX e considerado um dos mais prestigiados livros de toda a Literatura Portuguesa, já foi editado e reeditado em várias línguas, ao longo dos anos. Eça de Queirós é genial. Possui a facilidade de ‘brincar’com as personagens e com as histórias que escreve e ora sério, ora sarcástico, satirizou a sua época, sempre sob um olhar crítico e um humor refinado. A sua imaginação reflete-se na originalidade e na sinceridade que colocou neste livro. 

Adorei mesmo ter lido Os Maias. Como li para a escola, li mais depressa do que era suposto e houve algumas coisas que me passaram um pouco ao lado. Já passaram três anos mas é um livro que quero mesmo muito reler, talvez ainda o faça este ano. É muito completo, em todos os aspetos. Recomendo sem dúvida a sua leitura!


Deixo aqui alguns quotes do livro:

‘‘Falhámos a vida, menino! - Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «vou ser assim, porque a beleza está em ser assim». E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente.” 

‘‘Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro - modelos de ideias, de calças, de costumes, de leis, de arte, de cozinha... Somente, como lhe falta o sentimento da proporção, e ao mesmo tempo o domina a impaciência de parecer muito moderno e muito civilizado - exagera o modelo, deforma-o, estraga-o até à caricatura.’’

“- O quê!? Se tinha intenção de ofender o Dâmaso quando o ameacei de lhe arrancar as orelhas? De modo nenhum: tinha só intenção de lhe arrancar as orelhas!” 








Lisboa no século XIX

                                                

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